sexta-feira, outubro 01, 2004

Quilalea



O voo de quatro horas que nos leva de Maputo a Pemba, inicia-nos nesta experiência africana, mostrando-nos a verdadeira dimensão de Moçambique.
À chegada a Pemba, sentimos o impacto do calor húmido como uma estalada e aguardamos uns minutos pelo piloto que nos vai levar de avioneta para Quilálea, uma pequena pérola bem no coração do Arquipélago das Quirimbas, decretada santuário marinho em Setembro de 2002.
O arquipélago das Quirimbas é composto por 32 ilhas, que vão desde Pemba (a capital da Província de Cabo Delgado) até ao Rio Rovuma, que forma a fronteira natural entre Moçambique e a Tânzania.
A estadia em Quilálea era dos momentos mais desejados da minha viagem a Moçambique.
No aeroporto somos recebidos por um sorridente piloto inglês vestido de calções e camisa caqui, rosetas a denunciar uma intolerância dérmica ao calor dos trópicos.
Arrancamos numa minúscula avioneta, em busca do descanso tão pretendido.
Ao sobrevoar a costa, ficamos maravilhados com a profusão de cores e imediatamente me vêem à memória as imagens de "Out of Africa".
A viagem é feita em silêncio, pois o ronco ensurdecedor dos motores impede-nos de comentar tamanha beleza. E é na companhia dos nossos pensamentos que se esgota o curto tempo de viagem e nos aproximamos da ilha de Quirimba, situada a Norte de Quilálea.
Aqui é feita a aterragem, numa pista que esventra uma gigantesca plantação de coqueiros, que cobre a quase totalidade da ilha. Antes da aterragem, sobrevoamos em círculo a grande casa pertencente à plantação. É o sinal de aviso para nos irem buscar à pista e nos levaram a um barco que nos espera numa das praias da ilha.
Somos recebidos pelo alemão dono da plantação, de porte altivo a lembrar um dos seus coqueiros, pele curtida pelo sol, com o olhar duro de quem já viveu 50 anos numa pequena ilha do Índico a manter uma plantação de coqueiros.
Seguimos na sua camioneta de caixa aberta por uma picada entre o coqueiral, impressionados com a altura dos coqueiros, já com o sol do meio-dia a picar-nos nos ombros, ansiosos por pormos pé no barco que nos vai levar à enseada de Quilálea.
Chegados à praia, fazemos o transbordo sem cerimónias, calças arregaçadas, saco de viagem às costas mar adentro até chegar ao barco. Gosto desta descontracção – penso.
A curta viagem de barco põe-nos em contacto com o Índico, de águas transparentes e grandes promessas de bons mergulhos!
Ao fundo já se avista a pequena baía de areia branca, com as cabanas do resort discretamente integradas na paisagem.
Fomos recebidos na praia por Shawn, o gerente sul-africano, que imediatamente nos põe a par das "regras" básicas de Quilálea: os trajes são sempre informais, as refeições são combinadas com os hóspedes consoante o horário das actividades que estes querem fazer e, muito importante, a ilha não tem mosquitos, logo não há risco de malária.
Pretende-se que os hóspedes adoptem um espírito de verdadeira descontracção e usufruam ao máximo as potencialidades de um resort perdido no meio do Índico, onde não há rede de telemóveis, o telefone via rádio só funciona por duas horas e o gerador da luz é desligado às 10 da noite.
Em Quilálea só nos preocupamos com questões menores, como a hora da maré para mergulhar num determinado recife.
Tudo o resto é vivido com o ritmo e tranquilidade que nos invade em África.
A cabana que nos é destinada é de um conforto e bom gosto invulgar nestas paragens. Os materiais utilizados fazem a ligação e enquadramento com a natureza e o espaço é quase todo aberto de fronte para a praia.
Nesta pequena ilha africana que não tem o estigma da malária, vive-se com janelas, paredes e até o duche totalmente abertos ao exterior, para que a natureza seja a extensão do nosso quarto.
Assim, ao acordar a primeira imagem que vemos é o grande azul do mar a chamar-nos para aventuras marítimas.
Quilálea estava a ser tudo aquilo que imaginávamos!
Nos dias que se seguiram, dedicámos o nosso tempo a fazer os tão ansiados mergulhos nas barreiras de coral que compõem o santuário marinho. Foi o muito desejado retorno a águas quentes e tropicais, cheias de vida e cores improváveis, a lembrar os documentários de Cousteau.
A companhia do monitor de mergulho de Quilálea, o catalão Jordi, foi fundamental para umas manhãs de mar bem passadas. O seu amor pelo mar e em especial pela região, aumentou-nos o entusiasmo e os seus ensinamentos sobre a fauna local, um complemento perfeito aos mergulhos.
Para além do mergulho, Quilálea é um local ideal para a pesca desportiva de alto mar. Fenias, o capitão do barco de pesca recreativa, bem nos tentou convencer disso mesmo, mas como eu lhe expliquei, a nossa queda é mais para o convívio com os peixes e não a sua captura!
O resto do tempo é passado a desfrutar as excepcionais praias da ilha, a fazer passeios a pé ou, simplesmente, a ler um livro na quietude envolvente.
Quilálea excedeu todas as minhas expectativas e mostrou-me o melhor que se pode fazer em África: turismo de grande qualidade, num total respeito pela natureza.
O tempo escorregou-nos entre os dedos e passou mais veloz que o desejado.
Mas afinal é sempre assim quando desligamos do mundo e estamos felizes.

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